Com 40 anos de profissão, Neusa Sarto homenageia divindade da colheita e da fartura com restaurante que oferece o melhor da cozinha caipira
Em Gonçalves a 1300 metros de altitude, Nesse cenário, Neusa Maria Sarto instalou seu restaurante. É verdade que na escolha do lugar ela levou em conta também os bosques de araucária e o friozinho da montanha. Foi assim que a casa alugada de seu Zé Jaime em São Sebastião das Três Orelhas - bairro rural de Gonçalves, MG, que tem esse nome porque dele se avistam três pedronas que lembram orelhas - ganhou uma placa enigmática: Deméter na Roça. O que será que aquilo queria dizer? - perguntavam-se os poucos moradores.
A curiosidade logo foi desfeita quando começou uma movimentação sem fim de mesas, cadeiras, pratos e panelas. E o cheiro bom que vinha da casinha não deixava dúvida: ali estava uma cozinheira de mão cheia. Prova disso eram os turistas que não paravam de chegar. Bastaram quatro meses para que o Deméter se integrasse à paisagem do bairro. E, embora o restaurante carregue o nome da deusa grega da colheita e da fartura, não deixa de se cercar da proteção de São Pedro, São João e da Virgem de Aparecida, santos da devoção do povoado, que ganharam destaque na decoração. Nenhuma novidade. A fé sempre foi parte da vida de Neusa, já que ela descende de Giuseppe Sarto, o papa Pio X. Mas voltemos às comidinhas.
Ao cardápio farto ela incorporou os produtos da terra. Por isso, sobre o fogão de lenha não faltam lombos, frangos caipiras, farofas, bolinhos... Mas o que diferencia o Deméter na Roça dos muitos restaurantes de comida caipira espalhados pela Serra da Mantiqueira? É só provar e aparece o toque especial de alguém que aprimorou seu talento ao longo de 40 anos de profissão. Nas misturas de Neusa entram frutas e cachaça, além de ervas que brotam na hortinha no fundo do restaurante e alguns segredos muito bem guardados. Saborosas ousadias pouco encontradas nas panelas mineiras. "Acho que a tranqüilidade de São Sebastião das Três Orelhas me ajuda a achar o ponto certo de cada prato. Faço tudo com muita calma, sem correria", afirma Neusa.
E quem a conhece sabe bem o que ela quer dizer. Até chegar a Gonçalves, Neusa percorreu um longo e atribulado caminho. Longo porque aos nove anos já se sentia à vontade entre panelas e assadeiras, a ponto de os Sarto, apreciadores da boa mesa, como toda família italiana, considerarem que ali estava uma cozinheira nata.
"Já naquele tempo eu queria saber mais. Fiz meu primeiro curso de culinária aos dez anos", conta.
O talento precoce a transformou, apenas 13 anos depois, em empresária de massas, cremes e geléias. Neusa chegou a comandar em São Paulo nada menos que cinco confeitarias. "Ao mesmo tempo", bem entendido.
N O S S O C H E F E